sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Carnaval e Psicanálise

 

Carnaval e Psicanálise

 “Tudo que é profundo ama a máscara”
NIETZSCHE

O Carnaval está presente nas origens gregas de nossa civilização ocidental. Era uma festa profana de culto a fertilidade, comemorada com sexo e vinho, em reverência ao deus Dionísio.

O espetáculo carnavalesco carrega consigo uma história, traz na bagagem máscaras e fantasias de um mundo subjetivo que se revelam e ganham expressão nessa manifestação cultural, com o lema “tudo é permitido, o carnaval é de todos, e para todos!”

O carnaval provoca uma quebra na ordem social e permite uma inversão de papéis e valores.

Esse período é representado pela mistura de cores, classes sociais, diversão e cultura.

Brincando com as instâncias psíquicas, poderíamos dizer que o Id se solta.

Arromba a porta do porão, salta pra fora e vai pra folia, arrastando consigo o Ego, que num primeiro momento resiste, mas depois acaba aderindo a festa.

A festa do carnaval é considerada a manifestação popular por excelência e o lugar privilegiado da expressão do realismo grotesco. Na percepção carnavalesca assiste-se uma subversão das fronteiras entre o real e a fantasia.

Dentre os elementos explorados na festa, encontramos o riso.

O riso é festivo, universal, todos riem e permitem rir-se de tudo e de todos.

O riso grotesco exalta o “tempo alegre”, que participa no espírito da festa, mas também carrega o tempo da metamorfose, soberano, onipotente e mensageiro da morte.

Lembremos do poeta Frejat que diz que “rir de tudo é desespero”.

No regime alegre carnavalesco, tudo é transitório, os corpos estão em permanente transformação flertando com o perigo e o proibido.

O prazer entra em cena, marcando a satisfação do desejo, contrapondo à dor e ao tédio.

O carnaval parece ser uma licença poética do comportamento, um escapismo.

Nesse momento as fantasias dão asas aos actings outs, parecendo tudo justificado pelo clima dionisíco do carnaval.

A máscara está longe de ser apenas um adorno de carnaval, ela tem um valor catártico.

É um extravasamento, uma liberdade durante os dias de festividade, das rotinas cotidianas e da estagnação habitual.

Como diria Vinícius: “a gente trabalha o ano inteiro, por um momento de sonho, pra fazer fantasia de rei ou pirata ou jardineira, pra tudo se acabar na quarta-feira”.

Ainda no clima de brincadeira com as instâncias psíquicas, vou chamar o Superego que, embora tenha se deixado levar aos exageros dos companheiros Id e Ego nesses dias de folia, renascerá das cinzas e, com um olhar de superioridade, confirmará que voltaremos a sambar ao som das angústias do cotidiano nos próximos meses.

Prof.  Fabiana Taques

Fonte consultada: http://itipoa.com.br/carnaval-e-psicanalise/

domingo, 19 de novembro de 2023

PORQUE A GUERRA ?

 

“Por que a guerra?”

 Curiosamente, em 1932, Freud foi escolhido por Albert Einstein, o pai da física moderna, para responder esta questão. Isso foi possível porque o Comitê Permanente para a Literatura e as Artes da Liga das Nações orientou o Instituto Internacional para Cooperação Intelectual a promover cartas entre intelectuais de renome a respeito de assuntos do interesses comuns à Liga das Nações.

As duas missivas foram publicadas em Paris, em 1933, em alemão, francês e inglês simultaneamente, tendo sua circulação sido proibida na Alemanha.

Einstein questionava se havia alguma forma de livrar a humanidade da ameaça da guerra e chegou a declarar que Freud - por ser o criador da teoria, um estudioso do psiquismo humano e conhecedor da vida instintiva do homem - poderia elucidar e sugerir métodos educacionais que demarcassem caminhos e ações que resolveriam o problema, a ponto de tornar impossível qualquer conflito armado.

Ele desejava saber como seria possível, a ausência da guerra, a paz mundial à luz da Psicanálise.

Antecipando-se à resposta de Freud, ele afirma que as guerras ocorrem devido às questões políticas, psicológicas, sociais, culturais e econômicas, explanando-as a partir das seguintes idéias:

- pela ausência de um organismo internacional poderoso e parcial que congregasse as nações que se submeteriam às decisões legislativas e judiciárias julgadas por ele em nome da paz e do bem comum;

 - pelo desmedido desejo de poder dos governantes;

- pela ganância dos grupos econômicos, principalmente os da indústria bélica, que encontram na guerra a chance de expandir negócios e autoridade;

- pelo poder de controle das classes dominantes que utilizam a imprensa, as escolas e a Igreja a seu serviço;

- por um sentimento de ódio e desejo de destruição que o homem traz dentro de si que opera de várias formas e em diversas circunstâncias, tais como: guerras civis, intolerância religiosa, nas questões sociais, nas perseguições das minorias sociais, etc ...

Habilmente, Freud se desvencilhou da responsabilidade de propor medidas práticas e endossando o que fora colocado por Einstein, anunciou que seguiria seu rastro, ampliando-o com seus conhecimentos ou conjecturas psicanalíticas. Responde a questão a partir de duas das suas inúmeras teorizações sobre a subjetividade humana:

- a violência humana é inerente à condição biológica do homem, manifesta-se em todos os conflitos de relação a partir do processo mais remoto de socialização;
- o homem é mobilizado por dois instintos ou pulsões, cujas atividades são opostas entre si: a pulsão construtiva, erótica ou Eros e a pulsão destrutiva, de morte ou Tanatos.

Recordando “Totem e Tabu” - escrito em 1913, às vésperas da I Grande Guerra (1914-1918).

 – Freud afirma que o poder é conquistado e mantido com a violência, que inicialmente se restringia à força muscular, substituída pela capacidade intelectual de construir e ter mais destreza no manejo de novas armas.

A finalidade era subjugar o adversário, tirando-lhe a vida ou dominando-o pela escravidão.

O vitorioso deveria estar atento à própria integridade física, garantindo que o escravo se sentisse intimidado a controlar seu desejo de vingança.

A seu turno, os derrotados unidos descobriram uma força que poderia ser transformada em lei ou direito de uma comunidade em detrimento do interesse de um só. Para que esse poder comum pudesse ser duradouro, instituíram regras, punições e o desenvolvimento dos vínculos emocionais.

Segundo Freud, o crescimento dos grupos em sociedade aconteceu mantendo-se o desequilíbrio das forças entre pais e filhos, homens e mulheres, senhores e escravos, reproduzindo-se, inclusive, na justiça da comunidade.

A lei é feita de acordo com os interesses dos governantes, contemplando muito pouco aos que se encontrava em estado de sujeição, o que certamente causa insatisfações e intranqüilidade.

Os detentores do poder se colocam acima da lei e fazem uso da violência, enquanto que os dominados do grupo buscam mais poder e igualdade de justiça, gerando conflitos, rebeliões e até guerras civis em nossos dias.

Assim como ocorre dentro de uma mesma comunidade, esses conflitos podem acontecer entre comunidades diferentes, entre nações ou entre confederação de nações.

Baseando-se no texto “Além do princípio do prazer” – escrito em 1920 - Freud aprofunda o que Einstein chamou de desejo de ódio e destruição do ser humano, falando sobre Eros e Tanatos, oposição entre amor e ódio, atração e repulsão, preservar e destruir, entre vida e morte.

Explica que um instinto está amalgamado ao outro e muito embora haja a predominância do instinto de morte, ambos são essenciais e atuam concomitantemente nas relações sociais.

Além do que haveria nos conflitos bélicos ou não motivos nobres ou vis, declarados ou ocultos, idealistas ou mercenários, mas eles apenas serviriam de fachada para os desejos destrutivos inconscientes.

 TANATOS – O GOZO

Estes textos, escritos em períodos que precedem e sucedem a um grande conflito mundial, são fortemente marcados pelas experiências do pai e sogro que vivenciou as angústias e incertezas de quem espera notícias dos seus no front, bem como do analista e pensador de seu tempo atento aos lutos, melancolias, neuroses de guerra e aos corpos mutilados resultantes da atuação de Tanatos numa escala coletiva.

Mesmo apontando para a coexistência natural de opostos e a correlação de força entre eles, Freud, provavelmente contaminado pela máxima judaica “de que és pó e ao pó voltarás, pelos acontecimentos históricos a sua volta, pela inexorabilidade da morte biológica e pela compulsão à repetição de seus pacientes, num tom de rendição, constata quase que a supremacia de Tanatos.

A atuação de Tanatos é inversa à atuação de Eros e tanto um como outro podem direcionar seu poder de ação para o indivíduo ou para a coletividade.

 Os conflitos pessoais do homem ao longo de sua existência são causa e efeito dos conflitos maiores que têm ocorrido na humanidade ao longo de sua história.

A violência civil e as guerras reproduzem no macrocosmo os embates que ocorrem no microcosmo de qualquer grupo.

Atualizando para este momento a questão de Einstein e as opiniões de ambos cientistas, o que se pode observar é que se vive o gozo da compulsão à repetição.

O desenrolar dos fatos mostra que o homem individual e coletivamente, para além do sintoma – que é nó de palavra, metáfora e, portanto, submete-se à interpretação e à simbolização - vive e mantém o gozo que escraviza, anula e gera sofrimento.

Os últimos acontecimentos, no dia 11 de setembro causaram o maior impacto na opinião pública e na economia mundial dos últimos tempos. Nesta aldeia global magnetizada pela tela da televisão e do computador, só não viu “com os olhos que a terra há de comer”, aquelas imagens impressionantes e inacreditáveis, “ao vivo e a cores”, quem é cego, já morreu ou foi proibido pelo Talibã. Instantaneamente, os noticiários, as revistas, os jornais e os correios eletrônicos explodiram em informações, articulações, elaborações, previsões e simbolizações do que aconteceu e do que viria acontecer.

As manifestações eram tão ambivalentes quanto os sentimentos não assumidos.

Se por um lado o acontecido indignava por significar a barbárie de ceifar vidas humanas civis, na rotina diária em seu ambiente de trabalho e sensibilizava por se pensar na angústia daqueles que tiveram tempo de perceber o que estava acontecendo e por se imaginar a dor e o sofrimento dos familiares das vítimas, também havia “uma espécie de gozo inconfessável, sinistro.

Afinal de contas, aquele que se colocava como o dominador, poderoso, despótico, manipulador, cruel e que gozava de todos, tal qual o pai de “Totem e Tabu”, finalmente se revelava como uma farsa do seu próprio imaginário.

 Era vulnerável, poderia também ser atingido e experimentar o desconforto, a impotência, a perplexidade do dominado como ocorre na relação dialética do senhor e do escravo.

O que se viu parecia com as tomadas cinematográficas, lembrava as imagens forjadas pelos técnicos em efeitos especiais da sétima arte.

O rico imaginário hollywoodiano através de seus profetas eletrônicos colocou na tela a destruição da metrópole americana em vários filmes, sendo Armageddon, Godzilla, Independence Day, Nova York sitiada e Day After os mais recentes.

 Se fosse um sintoma, é possível que a significação talvez estivesse no saber boicotado de que a onipotência é virtual, uma farsa como o construto do cinema; talvez estivesse no saber escamoteado de que o gozo do dominador alimenta o ódio, o desejo de vingança e de rebeldia do dominado; talvez estivesse na culpa neurótica pelo gozo perverso, e, talvez estivesse no desejo não encarado de que a ordem seja subvertida e se ponha fim ao gozo enquanto gerador de sofrimento.

Estas pontuações não obstaculizam a persistência, o encistamento no gozo, a fuga da simbolização.

O presidente do país - que alavanca os outros sete que ditam as leis, as regras e de quem pode gozar nesta atual ordem mundial – aprisiona a opinião pública no imaginário e narcisicamente, como senhor do universo, dá a entender que tem a força e brada que “é a luta do bem contra o mal”, “que queremos Bin Laden vivo ou morto” e que “quem não estiver conosco, estará contra nós” .

A reação do senhor Bush pode ser explicada, também, pela audácia patética do ato terrorista.

Sem dar um tiro, sem usar um artefato bélico, sem usar um veículo de guerra, sem acionar um daqueles satélites que são capazes de tornar legíveis placas de automóveis em qualquer parte do mundo, eles abalaram os poderes da terra e dentro do próprio território norte americano.

Freud, se vivo fosse, teria que contabilizar este golpe como o quarto a fragilizar o narcisismo humano , pelo menos o narcisismo dos poderosos da ordem universal hegemônica. Foram abalados os três pilares do controle mundial: o desmoronamento das torres gêmeas - o coração comercial do mundo, o protótipo do poder absoluto, do capitalismo neoliberal; o ataque ao Pentágono - um dos símbolos de orgulho, da segurança nacional e da supremacia e controles ianques; bem como a ataque frustrado à Casa Branca – a fortaleza da democracia ocidental.

Numa atitude compreensível, do ponto de vista dos familiares das vítimas, mas nem por isso menos preservadora do narcisismo, a imprensa americana decidiu fazer cobertura sem sangue e corpos. Em Nova York, muitos fotógrafos e cinegrafistas foram detidos para evitar as imagens.

A fotografia vista, só um jornal as publicou, sendo taxado de “ovelha negra” além de ter sido chamado a dar explicações

Aliás, clama por entendimento imaginário e simbólico esse tom blasé dessas últimas violências, “o tom pastel da tragédia é próprio das guerras modernas, os soldados devem ir à luta, mas não podem morrer, e se morrerem, não diante das câmara ”.

A guerra - que nunca teve méritos ou valores positivos, pelo menos para os pacifistas - está mais para quem detém a tecnologia, sabe apertar botões e não precisa ter coragem e nem culpa. Os ataques são feitos por bombardeiros, bombas guiadas a laser e mísseis disparados a centenas de quilômetros de distância, seja do alto ou horizontalmente.

Aquela ação chamada “tempestade no deserto” matou 100 mil soldados e 100 mil civis iraquianos e 70 soldados americanos e pela tela da televisão, parecia um novo modelo de vídeo game ou talvez um show pirotécnico de mau gosto.

Essa mesma visão neo-realista, encobridora da realidade, tem sido transmitida na chacina que o poderio bélico americano tem executado contra o que resta dos afegãos e do seu território.

A dor, o sofrimento gerados, mais uma vez pelo desrespeito à vida humana, homens, mulheres e crianças civis, logo se transformarão em números nos anuários e serão mais uma página virada da história, se não houver denúncias e manifestações de solidariedade.

Enquanto a mídia através de imagens e textos parciais esconde as vítimas, forja em montagens comemorações árabes e reduz o ato terrorista à insanidade de fanáticos religiosos, que precisam ser exterminados, há ainda aqueles que não fazem uma leitura maniqueísta do fato e no mundo todos bradam vozes, imagens e escritos que denunciam e dão, a saber, que esses últimos fatos não são resultantes de uma loucura religiosa.

Numa re-edição do pai da horda primeva, que impunha seu gozo perverso a serviço de Tanatos, foram recordadas ações do governo americano nos quatro cantos do mundo, principalmente, na Criméia, em Hiroshima e Nagasaki, no Vietnam, na África do Sul, em Cuba, nos golpes militares e torturas na América Latina, na questão palestina, no Iraque e mais recentemente no Afeganistão.

Felizmente, o brado encontra eco entre os cidadãos americanos que se identificam com aqueles povos e países submetidos à insensatez do poder sem limites, ainda que imaginário.

Oficiais de altos escalões têm se colocado em oposição à política externa americana, e um deles chegou a declarar que “se realmente os EUA fossem a favor da paz, da democracia e dos direitos humanos não seríamos alvos de terroristas. (...) negamos a liberdade e os direitos humanos a muitos países (...)

Os EUA têm sido responsáveis por muito sofrimento em várias partes do mundo. (...) Precisaríamos ouvir as populações que estão contra nós, no intuito de aliviar seus sofrimentos”.

Nestes recortes de uma entrevista, pode-se vislumbrar que é possível amortecer o gozo, fragilizar a prepotência.

Tanatos pode ter seu poderio limitado pela atuação de seu oposto.

 

EROS – O SABER

Ainda que a leitura seja de oposição, no que concerne à Psicanálise, não se deve cair na armadilha simplista do maniqueísmo.

No funcionamento humano, não existe uma pulsão do bem e outra do mal. Ambas estão imbricadas a serviço do homem e são responsáveis pela perpetuação da espécie e renovação da vida. A existência do homem não chegaria a esse nível de complexidade se ambas pulsões não agissem.

O processo civilizatório tem provado que elas podem ser dominadas para retro alimentar essa mesma civilização podem ser educadas, controladas, e usadas a serviço da civilização.

Freud elabora a utopia que o domínio do intelecto sobre a vida instintual e o processo civilizatório possa levar a termo a ameaça da guerra.

Tal fato seria possível pelo caminho do conhecimento, pelo acesso ao saber, de forma abrangente e incondicional. Seria uma nova versão do fruto endêmico do conhecimento do bem e do mal.

O saber não passível do castigo ou punição, mas como possibilidade de ser ter consciência e agir.

Pragmaticamente, Freud sugere métodos indiretos para combater a guerra: estimular a atuação de Eros, o antagonista de Tanatos, aprofundando os laços emocionais humanos a ponto de se praticar o "ame a teu próximo como a ti mesmo" e motivando a identificação que aproxima os homens e gera a comunhão, o compartilhar.

Sinaliza que se deve dar maior atenção aos líderes natos a fim de que eles aprendam a subordinar seus instintos à razão.

Defende a abolição de atos violentos contra a liberdade individual e de pensamento praticados pelo Estado e pela Igreja que podem influenciar negativamente as novas mentes em formação (Freud,1933).

Há que se punir crime contra a humanidade por ação ou reação, não importando de que lado parta, para se educar o princípio de morte, criar oportunidade de Tanatos adiar seu gozo ou sublimá-lo e se estimular a vocação pela vida deste planeta.

Há que se dar oportunidade a Eros e que Tanatos não se antecipe, mas que surja como resultado do desgaste natural da manifestação do seu contrário.

Apologista do saber, Freud remete-se àqueles que se indignam ativamente contra guerra, creditando essa reação negativa à consciência de que cada pessoa tem direito a sua própria vida.

É sabido que a guerra destrói vidas, as esperanças, avilta o homem, estimula o assassinato, arrasa os patrimônios culturais dos povos, porque pode significar a destruição da raça humana (Freud,1933).

Mesmo após ter teorizado a pulsão de morte, em resposta a Einstein, Freud sustenta que o homem se indigna e até perdeu o interesse e a motivação para a guerra porque é prejudicial à função sexual e psiquicamente ele já está mais evoluído; seus instintos destrutivos já estão mais controlados e os impulsos que antes eram agradáveis aos ancestrais, hoje são indiferentes ou até intoleráveis, porque esses impulsos foram internalizados.

Os civilizados são pacifistas e repudiam a guerra intelectual, emocional e constitucionalmente (Freud,1933).

É importante perceber que no instante em que a o pai da Psicanálise foi chamado a opinar sobre a causa da guerra, isso quer significar;

- que esta forma de saber detém um conhecimento;


- que há uma demanda para que esse conhecimento seja expresso;


- que há uma manifestação de acolhimento àquilo que tem a dizer este saber;


- e que a contribuição deste conhecimento tem um espaço que exige ocupação no entendimento das questões humanas.

George Orwel, no seu romance “A revolta dos bichos”, mostra a força e a importância da conscientização pelo conhecimento, da união e da solidariedade para as conquistas e o controle da violência e da injustiça.

Aponta que o saber leva à mudança de atitude dos subjugados o que pode desequilibrar as forças, alterar os atores, as posições e as relações.

No entanto, apesar das conquistas, é preciso haver uma atenção contínua para não se retornar às mazelas anteriores.

Na qualidade de mais um instrumento que procura conhecer o homem na sua subjetividade e relações sociais, a Psicanálise tem uma teoria, uma prática a compor com os outros saberes. A transdisciplinaridade tão buscada pela ciência, que nada mais é que a solidariedade dos conhecimentos na abordagem do objeto comum inaugura um novo momento nas ciências que estuda o homem.

Urge que a Psicanálise conquiste através do ensino e de suas instituições o seu espaço no campo do saber e no campo da prática.

Socializar-se, isto é, atingir às populações de baixa renda, sem banalizar-se, é um desafio que já está sendo enfrentado por algumas instituições e que certamente redundará em muitas elaborações, teorizações e avanços.

Ainda que com alguns equívocos, a Psicanálise foi considerada como um instrumento de educação pelo viés do conhecimento de si mesmo, a partir de cada indivíduo. Se o processo civilizatório diminui a violência, deve-se investir na verdadeira educação, aquela que gera compromisso, atitudes e atuações que podem tornar o mundo menos violento, menos injusto e mais propício à vida, ao conhecimento e às criações humanas.

Dra. Dalva de Andrade Monteiro

Médica Homeopata. Psicanalista

Associada do Círculo Psicanalítico da Bahia.

Fonte Consultada:

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-94792002000100006

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quarta-feira, 16 de agosto de 2023

A GRANDE QUESTÃO DO SER HUMANO...

 

“SER OU NÃO SER AMADO”
EIS A GRANDE QUESTÃO DO SER HUMANO

(2009)

 

Se a Homeopatia fosse chamada para dar uma resposta  sobre o que é Ser humano responderia, através do exercício da clínica, que Ser humano significa necessidade de Ser amado.

Amores e desamores! 

A Homeopatia, também denominada Clínica da Similitude é, fundamentalmente, a clínica dos amores e desamores.

Não que a Homeopatia já houvesse nascido com esse objetivo, o de tratar desamores, mas simplesmente porque, após mais de duzentos anos de estudo e prática, revelou-se portadora dessa virtude. 

Decorre isso do fato de o medicamento homeopático, ao mobilizar o humano como o Ser unitário que é, evidencia o corpo e a mente sofrendo juntos.

Ao pesquisarmos um pouco mais profundamente o porque adoecemos encontramos sempre, nas origens das nossas desarmonias, uma situação afetiva que envolve o "Ser ou não Ser amado". 

Um amor não correspondido, um afeto esperado e não recebido, um desamor declarado ou sutil, uma perda afetiva, sempre, do bebê ao idoso, o sofrimento afetivo que envolve o ser ou não ser amado desencadeia, no humano, um movimento desarmônico que se mostrará pelos sintomas do assim chamado adoecer.

O Sujeito adoece para não morrer!

Parece loucura, mas esse é um dos grandes aforismos da medicina, compreender que a doença é tão necessária à vida quanto à saúde. 

O adoecer, em sua origem, instala-se na raiz de um desamor e o sofrimento psíquico, para evitar destruir o Ser em seu sofrimento, socorre-se do corpo para que o sistema se mantenha vivo.  Algumas vezes o sofrimento é tão profundo que a única saída percebida pelo doente é a morte, a destruição do sistema.  Isso é tão forte que em alguns cursos de orientação para evitar doenças gravíssimas (entre elas o câncer), recomenda-se às pessoas treinamentos para jamais esperarem amar ou serem amadas, ou seja, viverem na mais completa indiferença afetiva (o que sem dúvida as levará a outros adoecerem).

É claro que todos nascemos com uma considerável carga genética que nos predispõe às doenças. 

Nascemos predispostos às alergias, às inflamações, às doenças degenerativas, etc., e todas essas possibilidades de doenças tanto mais cedo se manifestarão e tanto mais agressivas e resistentes aos tratamentos serão quanto maior for o desamor que as tirar de seus estados de latência. 

E é por isso que cada um de nós adoece ao seu jeito, à sua forma, de acordo à sua qualidade de resposta ao desamor.

Para tratar pela Homeopatia, primeiro estudamos esse Ser único e irrepetível, portador também de um sofrimento e de uma história única e irrepetível (embora possam ser semelhantes a outros sofrimentos e histórias de outros humanos) para procurar compreender como se instalou a desarmonia que o caracteriza como doente. 

Às mazelas que se estruturaram a partir desse sofrimento denominamos doenças. 

A Homeopatia cuida, pois de harmonizar o doente com suas doenças e não tratar apenas às doenças de um doente, esquecendo sua propriedade de ser um Ser unitário, mente e corpo em sofrimento uníssono e indissociável.

Homeopatia é uma palavra que tem origem em duas outras palavras da língua grega:  "homeos" que quer dizer semelhante e "pathos" que significa, escolha, caminho, sofrimento. 

Portanto, tratar com Homeopatia significa utilizar medicamentos que tenham a capacidade de produzir em humanos sadios sofrimentos semelhantes aos experimentados pelos humanos doentes.  Sofrimentos sempre semelhantes, nunca iguais, uma vez que os seres são únicos e irrepetíveis.

Para conhecer as virtudes homeopáticas das substâncias os pesquisadores as experimentam em humanos considerados saudáveis, ou seja, humanos saudáveis são temporariamente levados ao estado de doentes para poderem informar sobre os sofrimentos e sintomas que as substâncias podem provocar.

Uma vez bem conhecidos os sofrimentos e sintomas provocados por uma determinada substância em humanos saudáveis a ela denominaremos medicamento. 

Este poderá ser utilizado como remédio homeopático para tratar humanos doentes que apresentem sofrimentos e sintomas semelhantes aos apresentados na experimentação em humanos saudáveis.

Cada medicamento homeopático estocado nas farmácias é portador de uma diferente informação sobre o adoecer, sobre os caminhos e desarmonias que conseguem produzir em humanos saudáveis.

Farmacologicamente o medicamento homeopático consiste em uma solução de água e álcool que pode ser utilizado em sua forma pura para o tratamento ou impregnar glóbulos de sacarose ou comprimidos de lactose preparados de acordo à farmacotécnica homeopática que é única.  

As soluções de água e álcool são então trabalhadas para armazenarem apenas a informação proveniente de cada substância que será retida nas pontes de hidrogênio das soluções, sem necessidade de qualquer molécula da substância original.

Ao tocar qualquer parte do corpo do doente o medicamento homeopático imediatamente comunica ao organismo a informação adoecer semelhante ao seu sofrimento. 

Em havendo semelhança entre o sofrimento provocado pelo medicamento em humanos saudáveis e o sofrimento vivenciado pelo doente, estabelecer-se-á uma condição de ressonância entre as pontes de hidrogênio dos dois sistemas e a partir daí o organismo doente inicia seu movimento em direção a um melhor estado de saúde, mais harmonioso, com melhor equilíbrio.

Percebe-se o início desse movimento e sua qualidade de instantâneo, analisando-se a variação percebida na qualidade dos pulsos carotídeos e radiais do doente, assim como a variação na pressão parcial de oxigênio sanguínea.

Diz-se que o medicamento homeopático atua muito lentamente.  Isso não é verdade! 

O tempo de ação do medicamento homeopático é de uma fração de segundo, é o tempo de uma palavra. 

Em fração de segundo uma palavra que rouba o amor nos fere e passamos às vezes, a vida toda, adoecidos por causa daquele momento. 

Em fração de segundo o medicamento homeopático comunica a informação adoecer nele contida, mas a velocidade com que os organismos respondem é variável, independe da vontade do médico e do doente, a resposta está relacionada à história do adoecer.

Podemos comparar o medicamento homeopático ao regente de uma grande orquestra. 

Pela sua qualidade de veicular informação seu único trabalho será reger a orquestra, não tocará qualquer instrumento.  Não ocupará receptores de ordem bioquímica porque sua qualidade está mais para físico-química, etc.

O  objetivo  da  Homeopatia é ajudar o Ser a completar o seu adoecer sem que ele se destrua, é ajudá-lo a transformar-se no sujeito de sua própria vida. 

Completado o adoecer, as doenças podem desaparecer ou, dependendo de sua qualidade (incurabilidade por exemplo), pode estabelecer-se uma condição de equilíbrio entre o doente e suas doenças, que não cause sofrimento. 

Em qualquer dessas condições, após revisitar todos os seus núcleos de sofrimentos o Ser ressurge redimensionado, reorganizado, re-harmonizado, resubjetivado.

Para completar esse adoecer inúmeros eventos ocorre durante o tratamento homeopático, são eventos que informam sobre o movimento curativo iniciado após a informação semelhante recebida pelo sistema e que não devem ser interrompidos sob o risco de, ao impedir o livre fluxo curativo instituído pelo organismo, percamos a oportunidade de chegar ao pondo de equilíbrio possível daquele sistema.

A chamada agravação homeopática, a temida piora dos sintomas que ocorre após o início do tratamento, significa que até aquele momento o doente não tivera condições de completar o seu adoecer e agora, em resposta à informação veiculada pelo remédio homeopático, mobiliza-se com maior vitalidade para completar e fechar a condição de doença.

Os momentos agudos durante o tratamento também sinalizam para essa reordenação e sempre se revestem de uma intencionalidade curativa, ou seja, aparecem para drenar as tensões psíquicas que estão se estruturando.  

Permitir que eles acontecessem, sem suprimi-los, é da maior importância para o sistema atingir seu equilíbrio.

Outras situações surgem sinalizando também para o movimento positivo desencadeado pelo organismo doente.  Assim, o retorno de antigos sintomas tanto de ordem física como emocional, esparsos ou inseridos em antigas situações de doenças repetem os caminhos do adoecer.   

As eliminações via erupções em pele, diarréias, expectorações, corrimentos, etc., também informam que o organismo está revisitando-se, revendo seus caminhos e completando situações de adoecer que não ficaram concluídas. 

Nesse revisitar-se  o inconsciente também se manifesta através dos sonhos, atos falhos, etc.  sinalizando onde o trabalho psíquico está acontecendo, em que fase da vida o Ser está se revendo.

Entenda-se pois que a Homeopatia não trata as doenças, mas sim o ser humano que as porta. 

A Homeopatia tem potencial para ajudar e tratar a todos os doentes quaisquer que sejam as doenças, isso porque não é o remédio homeopático que trata,  ele apenas informa ao organismo sobre os caminhos do novo equilíbrio. 

O medicamento informa, o organismo faz. 

 A Homeopatia devolve o poder ao ser, objetivando torná-lo sujeito em sua vida.

Texto Publicado em 2009 - Dr. Matheus Marim

Fonte consultada da época (2009):

http://bvshomeopatia.org.br/saladeleitura/texto14serounaoseramado.htm

 

segunda-feira, 17 de julho de 2023

EDUCAÇÃO VEM DE BERÇO

 

EDUCAÇÃO VEM DE BERÇO

 Quem nunca viu uma criança imitando o papai e a mamãe ou até mesmo repetindo falas, mesmo que não pronunciadas perfeitamente

 Os filhos são o reflexo dos pais.

 Cada gesto praticado é influência para o comportamento do bebê, desde os primeiros dias de vida.

 Segundo educadores, os princípios básicos, a ética e a moral que constituem a base do caráter das novas gerações vêm de berço.

 Tudo pode ser absorvido. Por isso, ter a consciência de ser espelho para o futuro do bebê é dever de toda família.

 Diferente do ensino escolar, em casa o aprendizado é natural e constante. “Não tenha medo do não”, aconselha Cris Poli.

  Impor limites é o primeiro passo para obter o controle da situação e prezar pela segurança da criança.

 Especialistas afirmam que para criar o bebê não é necessário poupá-lo do mundo, mas, sim, atender às suas necessidades.

 É difícil para alguns adultos compreenderem, porém regras e organização fazem bem para a formação das crianças.

 O cuidado com o conceito de autoridade também é fundamental.

 Em meio à razão, amor e paciência são ingredientes essenciais para a educação familiar.

 Para dar dicas de algumas regrinhas e tirar dúvidas sobre a educação do seu filhote, a Sempre Materna entrevistou Cris Poli, pedagoga e apresentadora do programa Supernanny, do Sistema Brasileiro de Televisão, para ajudar os pais a colocarem ordem em casa.

Uma das questões que mais preocupam os novos pais é como educar os filhos. Há uma forma de ter controle ainda quando bebês para que isso não se torne um problema futuro?

A educação dos filhos começa quando eles nascem.

É desde bebês que colocamos os limites e estabelecemos uma rotina para não acarretar futuros problemas. Quanto mais cedo, melhor!

Para que os pais tenham sucesso na educação dos filhos, os castigos devem fazer parte das regras?

Não sou partidária dos castigos e sim da disciplina, que é ensino. Para isso, é necessário regras e incentivo.

 O castigo não educa, simplesmente machuca e deixa marcas negativas na criança.

O momento da refeição costuma ser motivo de desentendimentos. Explique como educar o bebê, desde as primeiras papinhas, para ter boa qualidade na alimentação.

O mais importante é seguir a orientação do pediatra a respeito da alimentação do bebê.

 Mais adiante, quando a criança compartilhar a refeição à mesa, é fundamental o exemplo dos pais.

 Se todos os alimentos necessários para o crescimento forem introduzidos e se toda a família participar, com certeza essa criança se alimentará sem problemas.

Quais brincadeiras praticadas com a família reunida podem ajudar na educação da criança?

Todas as brincadeiras praticadas com a família reunida ajudam na educação. Somente o fato de estarem reunidos, compartilhando o momento, em paz e harmonia, é um grande e importante ensinamento que perdurará na lembrança pelo resto da vida.

Os pais devem atender a todos os desejos do bebê?

Os pais devem suprir todas as necessidades do bebê, mas devem colocar limites, desde cedo, para que ele entenda que há coisas que ele pode fazer e outras não.

Como dizer o temido “não” à criança?

O “não” é um limite que deve ser colocado com convicção, tranquilidade, consistência e firmeza. Não tenham medo de dizer “não”, é pelo bem da criança.

Como cuidar para que o filho seja feliz, sem a necessidade de ser também mimado?

Ser mimado não significa ser feliz. Esse é um erro. A criança se sente feliz quando é amada, cuidada, protegida, orientada e ensinada.

Dê um conselho para os casais que pretendem serem os “melhores pais do mundo”.

Para os filhos, somente seus pais podem ser os melhores do mundo. Algumas dicas são: amar, respeitar, ensinar, corrigir, disciplinar, conversar, ter tempo de qualidade com ele, ouvir o que ele tem para dizer, enfim, ser presente. Assim, vocês serão perfeitos.

A interação e sintonia entre o pai e a mãe são fundamentais para a educação dos filhos, pois é essa unidade que dará segurança ao pequeno

Qual a melhor maneira de corrigir os erros das crianças?

A boa conversa é sempre a melhor solução?

A criança precisa ser corrigida com amor, firmeza, convicção e autoridade, sem perder o controle, gritar ou bater. Conversar com o filho é muito importante, adaptando a conversa à idade dele. Mas, quando a conversa não surte efeito, é a hora de o pai decidir o que tem que ser feito, já que ele sabe o que é melhor para o filho.

A interação e sintonia entre o pai e a mãe da criança ajudam na educação? Por quê?

Sim, a interação e sintonia entre o pai e a mãe são fundamentais para a educação dos filhos, pois é essa unidade que dará segurança ao pequeno.

A organização da família é um ponto importante na educação dos filhos?

A organização é um ponto importantíssimo na educação dos filhos porque eles precisam de ordem para crescer e se desenvolver. O contrário de organização é caos, e nenhuma criança pode aprender, amadurecer e viver no meio da desordem.

Para os pais que têm vida profissional frenética, como compensar e aproveitar os momentos com os filhos sem deixá-los malcriados?

Os pais que têm vida profissional agitada não devem culpar-se por isso, devem aproveitar os poucos momentos livres para brincar, conversar, propor regras e impor limites, não mimá-los e deixá-los malcriados.

A avó realmente “estraga” a educação do netinho?

A avó que é consciente de seu papel não estraga a educação do neto. Colabora e aconselha os pais para que tomem suas decisões, sem interferir nos momentos decisivos.

Além da educação básica do filho, como prepará-lo para a vida social e profissional futura?

A personalidade da criança é formada entre os 0 e 7 anos de idade, tudo o que é ensinado nesse período é extremamente importante.

A base da formação do caráter é fundamental para preparar o filho para a vida social e profissional futura.

Não deixe de dedicar tempo com amor e paciência durante a primeira infância.

A amizade com crianças mal educadas pode atrapalhar, ou incentivar de forma negativa no processo de educação? Como os pais devem agir?

A amizade com certeza influi no processo de educação, mas ainda acho que a educação da família é mais forte e duradoura e pode resistir ao aprendido fora de casa, principalmente se os pais forem presentes.

Como corrigir o filho sem prejudicar sua autoestima?

A correção usando regras, rotina, disciplina, incentivo, organização e muito amor educa os filhos sem prejudicá-los. A educação equilibrada e com sabedoria dá o prumo para que os filhos desenvolvam e amadureçam fortes e sadios.

Como ensinar os pequenos que os pais são autoridade máxima, sem autoritarismo?

Os pais são autoridade máxima e responsáveis pela educação dos filhos e eles devem exercer essa autoridade de maneira consciente, sem descontrole, ou autoritarismo. Agindo assim, os filhos irão reconhecer, obedecer e respeitar, sem dificuldade.

Quais os pontos negativos dos pais super-protetores?

Esses pais são tremendamente prejudiciais para a educação dos filhos.

Criam obstáculos, não permitem o crescimento e amadurecimento emocional e mental das crianças e ainda impedem que conheçam atividades ou funções novas, além de barrar a experiência de aprenderem com seus próprios erros.

Como educar os bebês para que no futuro eles não precisem da ajuda da Supernanny?

Quem precisa da ajuda da Supernanny são os pais, e não os bebês.

 Crianças precisam de pais que assumam sua autoridade legítima e que organizem sua vida para educar os filhos com regras, disciplina, limites, incentivo, sem medo de serem pais, com muito amor e paciência.

 

    CRIS POLI – ESCRITORA / Pedagoga / Educadora

http://www.crispoli.com.br/

 

quarta-feira, 12 de abril de 2023

"AGRESSIVIDADE E VIOLÊNCIA - JUNG"

 

Agressividade e Violência

Sob a luz da teoria de Jung.

Historicamente, a violência é onipresente, está em todas as sociedades, camadas sociais, e se apresenta tanto física quanto psiquicamente. Vemos, na atualidade, exemplos de violência que nos assombram, seja ela de forma estetizada, como em vídeos de execução de prisioneiros de grupos radicais religiosos; seja instrumentalizada, como nas ações das forças de controle governamentais; seja nos horrores das guerras, ou nos atos violentos em geral que nos cercam nos grandes centros urbanos, ou nas relações interpessoais e de trabalho.

 Mas, antes de todas essas formas pelas quais a violência se apresenta, encontra-se o indivíduo, o ser humano. 

 E, como seres humanos, seríamos todos capazes de ser tão violentos como nossos semelhantes, que de tão violentos, podem nos levar a duvidar de sua humanidade? 

 O que caracteriza um comportamento violento? De onde nasce e parte essa força e quanto dela existe a priori ou evolui com o desenvolvimento da personalidade? O que ocorre psiquicamente antes, durante e depois desse ato de expulsão do insuportável, que vai em direção ao outro, ignorando sua existência ou tentando até mesmo extingui-la?

 Considero a obra de Carl G. Jung fundamental para a compreensão dos mecanismos psíquicos, entre eles a agressividade e a violência, pois traçar o caminho entre a agressividade e a violência no desenvolvimento humano é andar de mãos dadas com a sombra.

 Nesse percurso, cheio de relações e inter-relações, estão aspectos nossos que, geralmente, não gostamos de saber que existem. Mas, independentemente de nossa vontade, eles estão presentes em nós, em nossa psique, e influenciam nosso comportamento.

 A compreensão sobre qual o papel desempenhado por nossos aspectos sombrios dentro desse sistema intrincado pode ser um caminho possível para um melhor desenvolvimento psíquico.

 No aspecto individual a sombra representa o “obscuro pessoal”, como a personificação dos conteúdos de nossa psique não admitidos, rejeitados e reprimidos durante nossa vida, que em certas circunstâncias podem ter também um caráter positivo; sob o aspecto coletivo, representa o lado escuro geral-humano em nós, a disposição estrutural para o inferior e obscuro que habita dentro de todo ser humano. (JACOBI, 2013, p. 195).

 Um ego sem recursos, diante de situações que lhe causam desprazer, pode dar início a comportamentos violentos, mas há uma grande complexidade nos desdobramentos possíveis da agressividade, e um número ainda maior de aspectos e agentes.

 A agressividade e a violência têm diferentes funções.

 Não podemos conceber a violência apenas como um ato físico de afastamento diante de uma dor indesejada, nem mesmo como o fim de um movimento comportamental. 

 Ela é também um estado mental. 

 É um processo psíquico que coloca em movimento os instintos, os arquétipos, os complexos, o ego, as personas, e a libido.

 O ego pode receber inundações de conteúdos inconscientes, não apenas pela constelação de complexos, mas também de arquétipos e impulsos instintivos.

 O instinto é essencialmente um fenômeno de natureza coletiva, isto é, universal e uniforme, que nada tem a ver com a individualidade do ser humano. Os arquétipos têm esta mesma qualidade em comum com os instintos, isto é, são também fenômenos coletivos. No meu ponto de vista, a questão do instinto não pode ser tratada psicologicamente sem levar em conta a dos arquétipos, pois uma coisa condiciona a outra. (JUNG, 1919/2014b, loc. 1253–1269).

 Diante da força intensa e desconhecida dos instintos, o ego pouco pode fazer para controlar o movimento e comportamento resultantes. Podemos nos desenvolver social e culturalmente, mas esse componente natural, inato, sempre poderá se sobrepor a vontade do ego. O universal primário suplanta o individual racionalista.

 Os elementos polarizados também estão muito presentes nesse âmbito da agressividade e são partes importantes da teoria da psicologia junguina.

 Construção e desconstrução, integração e desintegração, criatividade e destrutividade, prazer e dor, passividade e violência, saudável e doente. 

 A possibilidade de cisão do arquétipo da agressividade é uma das bases teóricas do desenvolvimento do comportamento violento. 

 A agressividade pode ser entendida como uma massa primária a partir da qual podem ser moldadas qualidades que vão auxiliar o desenvolvimento e adaptação do indivíduo, mas dela também pode ser moldada a violência. Muitos fatores vão influenciar a maneira criativa ou destrutiva desse desenvolvimento.

 Jung não conceituou ou tratou diretamente da agressividade em seus escritos, mas subordinou-a ao tema da destrutividade humana, vista por ele como uma parte, um aspecto da sombra.

  Entretanto, Jung reconheceu as origens instintivas da agressividade, embora não tendo origem em apenas um único instinto. (MIZEN, 2003, p. 289–290, tradução minha)

 Traumas na primeira infância e mesmo depois dela podem influenciar negativamente o desenvolvimento do ego, e a construção saudável de sua relação com o Self.

 Este pode se sentir ameaçado pela agressividade e modificar a relação do indivíduo com os objetos. As experiências afetivas também podem sofrer distúrbios e modificações que irão influenciar a relação do indivíduo como o mundo na fase adulta e posterior.

 O comportamento violento pode se apresentar por motivos externos justificados — uma agressão recebida — mas também por projeção.

 A projeção de conteúdos sombrios no outro, é identificada em casos que vemos com freqüência, como preconceito e discriminação política, social, religiosa, racial e de gênero.

 A agressividade também pode ser ativada por estados de ansiedade provenientes de pressões da sociedade pelo enquadramento em padrões de vários modelos.

 Na adolescência, por exemplo, as questões de rejeição ou pertencimento a determinados grupos sociais podem desencadear estados depressivos, nos quais a agressividade pode se voltar contra o indivíduo.

 Por conta dos processos somáticos, o fenômeno psíquico da violência deve ser estudado e conhecido, pois poderá auxiliar no diagnóstico, diferenciando, um estado neurótico de outra patologia mais grave, psicótica por exemplo.

 De um ponto de vista arquetípico, doenças que vagueiam o lado escuro da psique individual e cultural não devem ser eliminadas.

 Elas devem ser iluminadas.

 Uma ruptura pessoal ou social cria a abertura necessária através da qual olhamos o perturbador domínio de nossa condição humana e terrestre.

 Um movimento do literal para o mítico, do informativo ao poético é uma trajetória arquetípica que viola o discurso predominante na psique irreflexiva e carregada de informação da sociedade ocidental. (CALLAN, 2009, p. 119, tradução minha)

 Vemos, atualmente, uma grande crise de ausência de sentido na vida das pessoas.

 A desconexão com o Self e a conseqüente desintegração afetiva perante o mundo têm refletido na sociedade, e a violência se faz presente nas relações pessoais de forma intensa.

 A luz da teoria junguiana pode nos trazer esclarecimento e um caminho mais humano, que nos auxilie, através da integração de conteúdos inconscientes, no desenvolvimento individual e social.

 Referências bibliográficas

CALLAN, G. M. Cultural Rupture: A call to poetic insurgency. In: The psychology of violence — a journal of archetype and culture. Spring V.81. p. 113–127. Louisiana, EUA. 2009.

JACOBI, J. A psicologia de C. G. Jung. Uma introdução às obras completas. Petrópolis, Vozes, 2013.

JUNG, C. G. A natureza da psique. Petrópolis, Vozes, 2014b.

MIZEN, R. A Contribuition towards an analytic theory of violence. In: JOURNAL OF ANLYTICAL PSYCHOLOGY. 48. p. 285–305. Oxford, Reino Unido, 2003.

Este texto é um recorte adaptado de meu trabalho monográfico:

PSICOLOGIA JUNGUIANA NA CONTEMPORANEIDADE: ASPECTOS PSICOLÓGICOS DA AGRESSIVIDADE NO COMPORTAMENTO VIOLENTO DO INDIVÍDUO. Monografia apresentada à FACIS como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Psicologia Junguiana.

FONTE: https://medium.com/@waltermateus/agressividade-e-viol%C3%AAncia-sob-a-luz-da-teoria-de-carl-g-jung-759e0205d96a

 

 

 

 

 

“AGRESSIVIDADE VIOLÊNCIA”

 JUNG

Acesse Leitura no link:

 

https://www.abmpdf.com/?p=1544

 

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